sexta-feira, 1 de maio de 2015



GEOLOGIA REGIONAL E GEOMORFOLOGIA DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA
Benedicto Humberto Rodrigues /Museu Nacional/UFRJ e Silvia Machado (est.)Museu Nacional/UFRJ)

Geologicamente o Estado do Rio de Janeiro é representado por rochas Pré-cambrianas de embasamento cristalino. Sua formação geológica é muito antiga e compreende dois grandes ciclos orogênicos, um do Pré-Cambriano Médio, denominado Transamazônico (Era Proterozóica), o outro do Pré-Cambriano Superior a Cambriano denominado Brasiliano (Proterozóico-Paleozóico).

As elevações do município do Rio de Janeiro são representadas por um núcleo de rochas cristalinas, geralmente granito-gnáissicas, recobertas por um manto de alteração ou solo residual.

De acordo com a coluna crono-geológica do município pode-se distinguir as seguintes fases:

Pré-Cambriano

O Pré-cambriano representa o embasamento cristalino, e é constituído de variados gnaisses, migmatitos, aplitos, granitos, anfibolitos, quartzitos, dolomitos.

A rocha mais característica do Rio de Janeiro é o gnaisse lenticular ou facoidal. Sua área de ocorrência é grande e encontra-se nos morros da Pedra da Gávea, Tijuca, Andaraí e etc.

Os leptinitos e biotita-gnaisse, ocorrem na parte central da Serra da Tijuca e Serra da Carioca, onde foram divididos em 3 unidades litológicas principais; Ortognaisse/Gnaisse facoidal (GNF), encontrado nos bairros da Usina, Tijuca, e Corcovado, compondo-se de microclina-gnaisse e plagioclásio-microclina (pertita)-gnaisse e presença de granada; Biotita-gnaisses (BGN), ocupa região do Sumaré, Tijuca, Usina. Está superposta a unidade GNF e subjacente a unidade leptinito (Lep). Constitui-se de paragnaisses de coloração escura gradando a migmatitos, é rica em biotita, e pequenos cristais de plagioclásio (albita-oligoclásio), quartzo e raramente microclina, granada, cordierita e sillimanita; Leptinito (Lep), localizado na porção leste-sudeste (Morro Dona Marta), reúne gnaisses claros, compostos por quartzo, microclina e quantidades menores de biotita e granada. Ocorrem ainda na área, corpos graníticos, aplíticos e pegmatíticos, diques básicos preenchendo fraturas e brechas (Corcovado) vinculadas a planos de falha, com presença de material silicoso e óxido de ferro (FERNANDES-DA-SILVA & RODRIGUES-DA-SILVA, 1987).

Uma faixa de quartzitos expõe-se na garganta do morro Dois Irmãos, prolongando-se pelo morro do Cocrane, Vista Chinesa, Mesa do Imperador e Excelsior.

Paleozóico (Ordoviciano-Siluriano)

O Paleozóico é constituído de um predomínio de granitos, granodioritos, dioritos (quartzo-diorito, diorito e gabro), pegmatitos e aplitos. São rochas que sob a forma de intrusão, atravessam as formações pré-cambrianas constituindo bolsões que ocupam grandes áreas. O granito aflora em numerosos pontos, e podem ser encontrados nas Furnas da Tijuca, Morro do Inácio Dias, Serra da Misericórdia. No Maciço da Tijuca o granito desponta nas partes mais elevadas, expostas à erosão com camada gnáissica pouco espessa. A Pedra da Gávea, é um exemplo disto, onde aflora um cimo granítico tabular, resultado das diáclases paralelas ortogonais.

Em outras áreas, o que é denominado de granito, como o granito preto da Tijuca, nada mais é que gabro micáceo ou diorito (ABREU, 1957).

No Parque Nacional da Tijuca, na área do Maciço da Tijuca, encontramos os matacões, originados geralmente de granitos parcialmente intemperizados, formando grutas e cavernas. As rochas básicas, como os dioritos e gabros, apresentam menor área de abrangência e geralmente estão associados ás do granito, encontrando-se no Maciço da Tijuca. Na Floresta da Tijuca pode ser encontrado no Vale Encantado e em alguns trechos da Estrada das Furnas. É possível encontrar os pegmatitos cortando os granitos e veios aplíticos nos granitos e nos dioritos.

As rochas básicas intrusivas, apesar da pequena ocorrência, foram muito importantes geomorfologicamente na formação de vales entre as montanhas e desempenham forte papel no que tange ao fluxo hidrológico, resultando às vezes em pontos de desastres geológicos.

Mesozóica (Cretáceo – Jurássico)

No Mesozóico encontraremos as rochas hipabissais básicas em diques de basalto que cortam os terrenos preferencialmente na direção SO-NE, originando os principais vales. São facilmente identificáveis pela maneira contrastante de como ocorrem entre as rochas encaixantes. Na estrada das Paineiras, próximo ao mirante Dona Marta (Serra da Carioca), encontra-se um belo exemplo de dique de basalto (preto) cortando o Leptinito (clar). Ocorrem também diques de diabásio. Os diques de diabásio, aparecem como fraturas sísmicas muitas vezes com quilômetros de comprimento, preenchidos pelo magma gábrico. É possível acompanhar um desses diques, no bairro da Tijuca, que começa na Conde de Bonfim, e vai até as Furnas de Agassiz. Um outro dique partindo provavelmente do mesmo centro, é cortado por estradas da Gávea Pequena, Vista Chinesa, Dona Castorina e rua Jardim Botânico. Na estrada do Redentor e nos fundos da Chácara da Floresta, na base da escarpa sul do Corcovado, encontra-se outro dique, em paredão, onde é substituído por uma brecha azulada, silicosa.

Meso-Cenozóica (Cretáceo - Terciário)

No início do Terciário e no final do Cretáceo, encontramos um predomínio de rochas alcalinas em magmas intrusivos, extrusivos e filonares. Essas rochas alcalinas apresentam-se sob a forma de seixos e matacões muito rolados e na maior parte alterados. São representados pelos fonolitos, bostonitos, lamprófiro, tinguaítos e foiaítos.

Cenozóico (Quaternário)

No período Quaternário, as rochas são sedimentares constituintes dos depósitos continentais (regolitos, colúvios, elúvios), praias, restingas, tômbolos. São areias, conglomerados, cascalheiros, concheiros, saibreiros, turfeiras.

Geomorfologicamente o município do Rio de Janeiro, apresenta-se com relevo montanhoso, onde dominam três conjuntos de elevações principais, que correspondem ao Maciço da Tijuca ( 1021 m), Pedra Branca ( 1024 m) e de Gericinó ( 887 m), se dispondo sobre as planícies sedimentares denominadas Baixada Fluminense, Jacarépaguá e Sepetiba. O embasamento é cristalino, apresentando estrutura gnáissica em base granítica, decomposto e fraturado por ação do intemperismo.

Segundo Lamego, a origem geológica do município do Rio de Janeiro, corresponde as sistema de falhas que, talhando abruptamente a costa, cortou de maneira idêntica, cerca de 40 Km para o norte, as grandes escarpas da Serra do Mar.

O relevo do Parque Nacional da Tijuca é montanhoso, apresentando por vezes escarpas muito íngremes, abrangendo o Maciço da Tijuca, Serra da Carioca e o Grupo da Pedra da Gávea.

Este relevo tem sua origem nos movimentos orogenéticos que fraturaram profundamente esta parte do Brasil durante o período Terciário.

O ponto culminante do Parque é o Pico da Tijuca com 1021 metros, localizado no Maciço da Tijuca.

Este Maciço se caracteriza por um relevo acidentado e compreende um bloco falhado da Serra do Mar no sentido NE/SW, originado de antigos dobramentos, expostos à erosão e à esfoliação.

Atualmente o que predominam na paisagem são os pontões, correspondentes à intrusões de rochas alcalinas e uma grande crista, correspondente à Serra da Carioca. Esses pontões constituem importantes centros de dispersão hidrológica, na medida em que essa região apresenta um índice pluviométrico considerável (1250 a 1500 mm anuais) além de grande umidade.

A declividade do bordo meridional do Maciço é bastante acentuada e o bordo setentrional ao contrário mostra uma paisagem bem trabalhada por uma rede de drenagem mais intensa.

O rápido processo de urbanização atuando intensamente sobre as vertentes muito íngremes da floresta, tornam estes pontos particularmente mais sensíveis à degradação.

Intemperismo e Erosão (rochas – solos)

A compreensão do processo de intemperismo, assim como o dos processos erosivos, é essencial para se conhecer a gênese, formação dos solos e consequentemente, a modelagem do relevo carioca.

O intemperismo e a erosão agem particularmente nas partes menos resistentes das rochas muitas vezes esculpindo-as em belas formas. A água é o principal agente e a velocidade desses processos varia conforme a topografia da área; ela será maior nas áreas mais acidentadas, onde a cobertura vegetal e o clima serão de grande importância.

Em condições de clima tropical a temperado como o nosso, as rochas tendem a se decompor, dando origem ao manto de intemperismo ou regolito (LEINZ, 1979).

A ação do clima nesses processos é fundamental, pois este será um fator determinante, não só do tipo de intemperismo, como no de solo resultante.

A área do PNT, sob condições de clima quente e úmido, com precipitação acima de 1200 mm, é um ambiente altamente propício ao intemperismo (principalmente químico), onde a água parece ser o principal agente transformador, atuando quimicamente através da hidrólise e fisicamente.

Segundo pesquisas que vêm sendo desenvolvidas, na área do Maciço da Tijuca, entre os domínios geo-hidroecológicos estabelecidos por Coelho Netto (1985), dois se destacam (tipo Archer e tipo Bom Retiro) por apresentarem hidrológicamente ambiente de alta energia potencial devido à presença de paredões rochosos. No entanto a existência de solos rasos, induz a rápida saturação gerando escoamentos superficiais saturados, devido às entradas de chuva.

A área possui cobertura pedogenética típica de região montanhosa tropical úmida, onde os processos formadores dos solos agem principalmente sobre materiais coluviais, que já sofreram intensa lixiviação, apresentando baixos teores de elementos químicos.

Estudos de Rosas (1991), também apontam a água como agente principal formador dos solos.

Mais adiante no capítulo referente a solos serão discutidos os tipos de solos do PNT, resultantes do intemperismo de suas respectivas rochas.

Um outro sistema modelador de formas na paisagem carioca é aquele resultante das diáclases; estas são fraturas ou fendas nas rochas, causadas principalmente pelos esforços tectônicos, apresentando direções variadas e que constituem pontos fracos de ataque, por parte da erosão.

As diáclases têm um papel importante na desagregação das rochas (intemperismo mecânico) e também na erosão. Na paisagem carioca as formas produzidas pelo sistema de diáclases são bem definidas. A Serra da Tijuca, por exemplo, assim como o Corcovado apresentam silhuetas idênticas, originadas de duas diferentes superfícies de fratura; da mesma maneira, as linhas retas das encostas dos vales formados ou das séries de ravinamentos mostram direções concordantes com o sistema de diaclasamento.

A desintegração mecânica e a decomposição química atuando junto com o sistema de diaclasamento e fatores climáticos podem acelerar o processo de alteração das rochas cristalinas, como acontece no município do Rio de Janeiro. Onde não existe mais o manto de intemperismo, percebe-se um aspecto de descascamento nas formações graníticas dos morros. Outras formas ficam a descoberto quando removida a massa eluvial ou coluvial. Um bom exemplo pode ser observado nas Furnas da Tijuca, onde muitos blocos sob a forma de matacões originaram-se no próprio local, bastando acompanhar o alinhamento das faces do bloco, em relação ao sistema de diaclasamento exposto ( ortogonal) no leito do rio Cachoeira.

Os processos erosivos contribuem, através dos agentes de erosão; físicos, químicos ou biológicos, destruindo e sedimentando ou construindo novas formas. Resumindo são processos exógenos transformadores da paisagem.

No entanto este relativo equilíbrio pode ser quebrado, por um tipo de erosão anormal, realizada pela intervenção humana (erosão antrópica), motivada por desmatamentos, cortes em estradas, etc. Essa intervenção, acelera a ação desses processos, onde a destruição será muito mais rápida que o tempo de sedimentação (GUERRA, 1979).

Os processos erosivos encontrados no parque, parecem ser um problema fundamentalmente hidrológico, favorecidos principalmente pelos desmatamentos, queimadas e cortes em áreas de declives, facilitando ainda mais o fluxo das águas de escoamento, que reflete muitas vezes de maneira catastrófica nas regiões de baixada, como nos casos de Março 1966, Fevereiro de 1988 e por último Fevereiro de 1996.

Nas matas, a maior parte da água fica retida nas folhas, que são importantes no sentido de reduzir a velocidade das gotas de água, minimizando o impacto desta no solo, o que favorece a remoção de suas partículas, diminuindo sua retenção. O desflorestamento é uma das causas do desequilíbrio morfogenético que acelera a evolução das vertentes. A retirada da vestimenta vegetal natural faz crescer o escoamento superficial.

O impacto das águas de chuva, através do escoamento superficial desempenha forte ação erosiva (erosão pluvial), principalmente se a quantidade precipitada é maior que a capacidade de infiltração do solo. Numa topografia acidentada como a da área do Parque somada aos fatores como desmatamento, queimadas, etc., a concentração dessas águas descem as encostas com grande velocidade, formando-se verdadeiras enxurradas, que com o tempo produziram ravinas no solo.

Ligada ao processo de formação de ravinas está o fenômeno dos movimentos de massa; outro agente modelador de paisagem, que será discutido num capítulo mais adiante.

Nesse processo de ravinamento, a massa de terra levada pela erosão é considerável. A retirada da cobertura vegetal provoca uma intensa e brusca infiltração das águas, diminuindo a estabilidade do manto de decomposição e provocando grandes desbarrancos. Se este manto estiver diretamente superposto às rochas impermeáveis (como granito e gnaisse), aumentará consideravelmente de peso e plasticidade, onde sob a ação da gravidade, tenderá a deslocar-se para baixo. Durante as grandes chuvas a estabilidade do manto é sempre afetada, em maior ou menor grau.

Em pouco tempo a ação conjugada da erosão superficial e dos movimentos de massa, provocam uma erosão intensiva e nefasta.

Erosão e Ação Antrópica

Somado ao problema da erosão que vem sofrendo o parque atualmente, está o problema da impactação do solo.

O Parque Nacional da Tijuca possui diversas trilhas que são utilizadas intensamente por praticantes de atividades esportivas as mais diversas como, ecoturismo, motocross, mountain-bike.

Essas trilhas mantém suas características naturais, sem nenhum tipo de conservação. É possível observar em muitas delas situações de risco, devido aos processos de erosão, problemas de drenagem, excesso de ramificações, aumentando ainda mais a área impactada pelo uso sem controle dos visitantes.

Movimentos de Massa (Cobertura vegetal e água de escoamento)

Os movimentos de massa, lentos ou rápidos, são provocados por atividade biológica ou processos físicos resultantes de condições climáticas, onde a ação da gravidade é o fator principal ( PENTEADO, 1978).

A cidade do Rio de Janeiro, apresenta um considerável histórico de fenômenos de movimentos de massa, onde a remoção do manto de decomposição e dos produtos detríticos contribuem para a transformação da geomorfologia da paisagem, tendo como conseqüências perdas materiais, de vidas humanas além dos danos ao meio ambiente.

A literatura aponta que a grande maioria dos movimentos de massa que ocorreram no município, estão associados a cobertura vegetal pouco espessa em áreas de encostas muito íngremes, ocorrência de grandes massas rochosas, e um índice pluviométrico elevado em épocas de chuvas intensas. Apesar dos fenômenos de chuvas e de escorregamentos serem fenômenos naturais estes vêm sendo, cada vez mais, intensificados pelas atividades antrópicas, com o mau uso, manejo e conservação dos solos, acarretando uma série de desequilíbrios ambientais.

Movimentos de massa associados a encharcamento de solo provocado por chuvas intensas associados também a planos de fratura e falhas, geralmente são a causa da maioria dos desabamentos que ocorrem nas escarpas da Serra do Mar.

O intenso processo de desmatamento nas encostas do PNT, seja no passado por intensa exploração para o plantio ou no presente pela ocupação desordenada e poluição, removeu a maior parte da cobertura vegetal original, expondo-o ainda mais aos fenômenos de movimentos de massa.

A cobertura vegetal é um fator que segundo os especialistas, desempenha um papel importante na proteção dos solos e um relativo grau de segurança nas encostas, minimizando também os processos erosivos, através dos seguintes elementos da floresta: (a) O conjunto das copas das árvores, funcionam como anteparo à ação dos raios solares, dos ventos e da chuva, evitando assim bruscas mudanças na umidade e temperatura do solo das encostas, garantindo assim certa estabilidade; retendo maior quantidade de água precipitada; eliminando através da evapotranspiração o volume de água excedente das plantas. (b) Os detritos vegetais que se acumulam na superfície das matas, atuam, retendo boa parte da água que chega ao solo impedindo assim uma infiltração efetiva; moderando também o escoamento superficial concentrado. As raízes das árvores mantém a estabilização das encostas, devido a sua estrutura (malha) (GUIDICINE & NIEBLE, 1983).

As chuvas caídas em Fevereiro 96 que castigaram de maneira catastrófica o Maciço da Tijuca, nas serras e nos morros entre Jacarepaguá e a Floresta da Tijuca, produziram efeitos imediatos na paisagem do parque, onde as cicatrizes nas encostas provocadas pelos deslocamentos do manto de intemperismo e vegetação ainda são visíveis.

Nas vertentes das Serras da Taquara, Cocanha e Bico do Papagaio, ocorreram movimentos de massa de tal intensidade que provocaram o transbordamento dos rios das Pedras, Papagaio e Quitite (Jacarepaguá) e dos rios Humaitá, Fazenda, Cova da Onça e Solidão (Floresta da Tijuca).

Do lado da floresta, junto aos rios Humaitá e Cova da Onça, pequenas represas de pedras foram arrebentadas pelos blocos de rochas que rolaram das partes mais altas, centenas de árvores foram arrancadas pela força das águas que desceu pela montanha destruindo também estradas e trilhas, abrindo verdadeiras clareiras nas matas e indo parar nas regiões de baixada amontoando pedras, árvores e lama.

Do lado de Jacarepaguá, os movimentos de massa deslocaram toneladas de pedras e lama, destruindo casas, rompendo canalizações, deixando vítimas e desabrigados.

Dos deslizamentos ocorridos no Maciço da Tijuca, dentro da floresta, os mais preocupantes em termos de destruição dos sítios históricos são os dos morros do Cocanha e do Bico do Papagaio. O do Cocanha atingiu uma área bastante considerável em sítios históricos, além de provocar o transbordamento e o deslocamento do curso do rio da Cova da Onça, carregando toneladas de pedras, que derrubaram o muro do Parque, junto ao portão do Açude da Solidão atravessando a estrada e chegando até as casas próximas ao Parque. O do Bico do Papagaio também atingiu um prédio histórico, conhecido como A Fazenda, comprometendo sua estrutura. O deslizamento do Papagaio seguiu seu curso pelos rios Humaitá e Fazenda, onde encontrou o rio Solidão que desviou seu curso, correu para a estrada chegando até o Açude transformando-o num imenso depósito de lama, troncos e pedras.

Hidrologia e Cobertura Vegetal

Já nos referimos anteriormente à importância da cobertura vegetal na sustentação e preservação do solo, ou seja, na garantia do seu equilíbrio morfogenético, e que a retirada dessa capa vegetal aumenta o escoamento superficial, desempenhando forte ação erosiva.

Outro papel de importância fundamental da cobertura vegetal está na manutenção do ciclo hidrológico e hidrográfico. A regularidade desses ciclos está diretamente relacionada aos mecanismos reguladores, que desempenha a cobertura vegetal numa área florestada; como a copa das árvores, que funcionam como amortecedor e regularizador da entrada de água das chuvas, continuada pelo tronco que faz com que o fluxo dessa água escorra gradativamente, e o papel da serapilheira, que funciona como um filtro armazenando e permitindo o escoamento lento por capilaridade.

A rede de drenagem do Parque Nacional da Tijuca é considerável, contando com mais de 140 cursos de água que descem de suas encostas para abastecer diversos rios, dentre eles o Maracanã e o dos Macacos. Hoje em dia a maioria desses rios apresentam suas águas barrentas devido a grande quantidade de sedimentos oriundos do intenso processo de erosão dos solos pela falta da cobertura vegetal.

No passado, entre os séculos XV e XVI, a floresta que recobria atual área do parque era tão exuberante em área similar, quanto a da Floresta Amazônica. No entanto com a introdução do plantio para o café e chá pelo homem, essa floresta acabou sendo praticamente toda devastada, ocasionando profundas modificações nesse ecossistema. Com o fim dessas práticas agrícolas, a reconstituição natural somada ao reflorestamento feito pelo homem se desenvolve.

Atualmente é possível observar desde árvores de porte alto, arbustos e ervas até grande quantidade de trepadeiras e epífitas. Alguns lugares como a Mata do Pai Ricardo e o Vale dos Ciganos é possível encontrar vegetação de mata ainda preservada.

Nas áreas de maior degradação o que domina na paisagem é o capim colonião (Panicum maximum), gramínea essa facilmente inflamável durante as queimadas. No passado, como já foi citado anteriormente, esse parque era inscrito nas formações florestais densas, recobrindo a atual área urbana do Rio de Janeiro. Hoje, raros trechos dessas formações são encontradas e é provável que nem se encontre mais remanescentes da mata primitiva.

Solos

Clima, rocha, vegetação, relevo e tempo de atuação são os vários fatores que atuam na formação do solo. Como já foi dito, o fator clima, sem dúvida é o mais fundamental; uma mesma rocha poderá formar solos diferentes se intemperizada em diferentes climas e rochas diferentes podem originar solos idênticos, se formados sob o mesmo clima.

Os solos do PNT, são denominados de solos autóctones, que resultam da alteração in situ da rocha e apresentam variação em sua composição em função da rocha mater e do grau de intemperismo.

Em algumas áreas de encostas do parque, observa-se a rocha nua (sem solo) ou horizonte C, exposta pela erosão, e nas áreas onde a vegetação começa a se recompor, ainda sem acúmulo de matéria orgânica, encontram-se concentrações arenosas de granulação grosseira.

Solos derivados de granitos e gnaisses apresentam-se argilosos ou argilo-arenosos, geralmente de cor vermelha, constituído de grãos de quartzo, feldspatos, partículas micáceas, argilas caolinitícas atacadas por substancias férricas. Os solos derivados de diabásio e basaltos, dão origem praticamente a terras roxas. Estes situam-se nos vales entre as montanhas. Solos originados de dioritos, são de alto grau de teor de cálcio e fósforo.

De acordo com a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 1977 – os solos do PNT, são classificados em:

Latossolo Vermelho Amarelo, Álicos ( LVd2), de textura argilosa. Encontram-se geralmente em relevo montanhoso, coberto por vegetação de floresta subperenifólia, onde predominam rochas gnáissicas e graníticas do pré-cambriano. Normalmente são solos muito porosos, de consistência friável e muito friável quando úmidos e plásticos e pegajosos quando molhados. São basicamente constituídos por argilas.

Latossolo intermediário para Cambissolo, Álico de textura argilosa. Ocorrem associados aos latossolos ( LVd2). Basicamente constituídos por feldspatos e material argiloso de aspecto micáceo. São encontrados nos declives mais acentuados do maciço ( acima de 600 m), cobertos por floresta subperenifólia. São formados de fragmentos de rochas gnáissicas e graníticas.

Cambissolo Latossólico, Álico de textura média (cascalho). Ocorrem em relevo montanhoso sob vegetação de floresta subperenifólia. Apresentam baixa presença de argila, porém com predomínio de silte e minerais de feldspato e mica.

Solos Litólicos Indiscriminados (LVd2 e PV4). Ocorrem condicionados, principalmente, pelo relevo forte ondulado e montanhoso (declives superiores a 50%). Por esta razão, a maior parte do material intemperizado e/ou fragmentado deposita-se nas partes mais baixas.

Latossolo Vermelho Amarelo, Álico de textura argilosa, pouco profundo. Ocorrem em relevo forte ondulado (LVd4), coberto por floresta subperenifólia. Em relação ao LVd2, este se apresenta em perfis mais rasos. Originam-se a partir da decomposição de rochas gnáissicas e graníticas.

Podzólico Vermelho Amarelo, Álico constituído por textura média argilosa. Encontra-se coberto por floresta subcaducifólia em relevo forte ondulado (PV4). Este solo é derivado da decomposição de rochas gnáissicas.

Podzólico Vermelho Amarelo Equivalente Eutrófico, de textura média argilosa e morfologicamente semelhante ao anterior. Este solo encontra-se em relevo forte ondulado, sob vegetação de floresta subcaducifólia. É possível observar em alguns perfis o contato direto com a rocha, onde o material originário do solo é proveniente da decomposição de fragmentos de rochas e/ou material argiloso vindos das elevações para as baixadas. Durante o mapeamento foi encontrado em áreas quartzíticas, solos arenosos com calhaus e areias grossas em diversos pontos.

RESULTADOS:
Durante o desenvolvimento das investigações em campo, foi possível observar dentre os elementos considerados, que de um modo geral, os movimentos de massa registrados, foram uma resposta natural do meio físico, ao somatório das agressões sofridas, pelas ações antrópicas (queimadas, desmatamento, etc.) associadas a própria geomorfologia da área (forte declividade), estrutura geológica (fraturas e mergulhos fortes) e alto índice pluviométrico durante o verão de fevereiro de 96, merecendo também especial atenção o estrato de solo raso sobre superfície rochosa.

Atualmente ainda pode-se verificar muitas árvores, matacões ou blocos de rochas em situação de risco sobre as encostas do Maciço. Encontram-se também algumas cicatrizes da erosão, e a presença de ravinamentos em muitas áreas confirma o intenso fluxo superficial.

Outras áreas do parque apresentam problemas de movimentos de massa causados pelas chuvas de Fevereiro 96, no entanto como foi colocado anteriormente, a área do Maciço da Tijuca foi privilegiada por esta pesquisa, por apresentar, no entender da equipe, a situação mais problemática em termos de destruição de monumentos históricos, mananciais e propriedades particulares.

Futuramente, tornam-se assim necessárias investigações geotécnicas e elaboração de projetos mais aprofundados que contribuam para a preservação e manejo do Parque.

Do material coletado em campo, foram feitas análises macroscópicas e microscópicas com a finalidade de identificar as principais rochas e minerais, caracterizando as unidades litológicas.

Assim, com base na carta geológica do Estado da Guanabara, folhas Baía da Guanabara e Vila Militar, na escala de 1:50000 ( DNPM) e observações in loco, foi possível a elaboração do mapa geológico do Parque Nacional da Tijuca.

Os resultados alcançados preenchem os objetivos da pesquisa quanto à identificação e análise das condições geológicas locais e principais impactos do Parque, na área do Maciço.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A área em que foi criado o Parque Nacional da Tijuca representa, sem dúvida alguma, uma amostra significativa do ecossistema de Mata Atlântica, reduzida no Município do Rio de Janeiro a uma porcentagem bem menor da cobertura florestal primitiva.
Apresenta ainda a área valores históricos e culturais a serem necessariamente preservados, mas é sobretudo a diversidade biológica, tanto florística como faunística, que ainda constituem os alvos mais ameaçados desse ecossistema.
A preservação dessa cobertura florestal, é fundamental para garantir o bom funcionamento das interações bióticas, dos sistemas hidrológicos e da estabilidade dos solos. É necessário também atentar para a proteção das áreas de acentuada declividade, minimizando a possibilidade de erosão, levando em consideração a intensa pluviosidade que domina a região durante o verão.

Nesse sentido, tornam-se emergentes tanto as ações de cunho técnico e científico com que embasar a sua proposta de manejo, bem como aquelas que garantam a sua integridade afim de contribuir para a preservação do maior parque urbano do mundo.

Deve-se levar em conta que a preocupação somente com os aspectos paisagísticos, ecológicos ou de lazer não evitarão tragédias para a área localizada tão perto da malha urbana.

Enfim, o presente trabalho constitui apenas o escopo preliminar de informações a serem testadas e aprofundadas em futuros trabalhos de pesquisa, visando a manutenção e estabilização desse ecossistema, que dentre outras unidades de conservação, federais e estaduais, teve sua área incluída no Tombamento da Serra do Mar/Mata Atlântica em 1991.

AGRADECIMENTOS


Os autores desejam expressar seus agradecimentos à direção do Parque Nacional da Tijuca (IBAMA) pelo apoio. À arqueóloga Rhoneds Aldora R. Perez (Depto. de Antropologia/MN), à professora e arqueóloga Maria de Lourdes Lemos pelos trabalhos de campo, fotografias e informações históricas.
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Benedicto Humberto Rodrigues /Museu Nacional/UFRJ e Silvia Machado (est.)Museu Nacional/UFRJ)

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